quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Movimento 70 de Novo

Queridos amigos e amigas:
Tenho pensado muito num assunto em particular e gostaria que vocês refletissem sobre isso. Sou músico e produtor independente desde o início dos anos setenta. Todas as vezes que interagi ou tentei interagir, aqui no Brasil, com o show business oficial das majors, das multinacionais, da direita tradicional e conservadora em última análise, não deu certo. Tive alguma experiência internacional nos Estados Unidos e na Europa e percebi que lá as coisas são diferentes. As majors se nutrem da criatividade das indies, a ponto de, nos anos 80, o movimento independente ter praticamente salvo as grandes gravadoras da bancarrota. No fundo acho que o poder econômico tentou ou comprou o underground, mas os artistas ganharam com isso e o público também. Sempre tive esperança que isso acontecesse aqui no Brasil mas parece que a fronteira (tênue e quase impenetrável ao mesmo tempo) entre os indies e os majors continua impedindo a evolução da nossa cena musical. Vejam o caso dos meus queridos amigos Mutantes: assim que conseguiram o apoio essencial de uma ótima pessoa como o Aluizer Malab decolaram para Londres e para o mundo. Na volta já foram apropriados pela Globo, Sony, etc, com resultados muito bons para eles e para os seus milhares de fans. Agora, os Mutantes nunca foram independentes: desde o início mereceram e participaram dos grandes movimentos musicais (Festivais, Tropicália, etc) dos anos sessenta e com isso sempre desfrutaram do poder de penetração e influência da grande mídia devidamente censurado e "permitido" pela ditadura. Esse poder é tão forte que, aliado à incrível qualidade musical dos Mutantes, fez com que os filhos e até netos dos seus fans originais cantem junto com eles as letras de quase 40 anos atrás. É maravilhoso isso num país tão desmemoriado como o nosso. Ao mesmo tempo alguns de vocês podem ter ouvido falar do Rock Brasileiro dos anos setenta. Existiram conjuntos como o Terço, o Som Nosso de Cada Dia, o Terreno Baldio, a Barca do Sol, o Vimana, o Veludo, o Bicho da Seda, a Bolha , o Peso, o Burmah, o Sindicato, a Chave, o meu Apokalypsis, e muitos outros, gente independente e talentosa que fazia um som inesquecível e surpreendente. Ao contrário do que aconteceu na Inglaterra e Estados Unidos, vieram os anos 80 e o Movimento acabou, assim com acabaram todas essas bandas. Os músicos que conseguiram sobreviver se adaptaram ao modelito pop das grandes corporações e aquele som, mágico e incandescente, se perdeu no tempo. Quem teve oportunidade de ouvir nunca esqueceu o que seria a grande promessa de um Rock Brasileiro de qualidade universal. Sábado, dia 3 de fevereiro, tive o privilégio de ouvir meu amigo "old school", fundador do Terço, Cezar de Mercês, cantando "Hey amigo" em 2007. Alguns de vocês sabem do que estou falando e podem ter idéia da emocão que eu senti cantando a canção com ele. Enfim, este texto virou um desabafo e uma esperança. Sim, é uma esperança de ressurreicão, de reencarnação, de segunda chance para aquele sonho, para aqueles velhos rockeiros que estão aí até hoje, íntegros e musicalmente saudáveis.
Vamos nos unir: o sonho recomeçou, vamos trazer o Espírito dos 70 de Novo.
Paz, amor e rock'n'roll!
Zé Brasil.